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A SUSTENTABILIDADE NO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO

A partir de uma análise do que esta ocorrendo nas grandes áreas funcionais da administração procuro alertar os administradores sobre a necessidade de aprofundar-se nos conceitos ambientais que estão cada vez mais presentes nas organizações do mundo inteiro. Participando do Encontro do Nordeste de Estudantes de Administração -ENEAD em São Luiz, Maranhão, realizado no período de trinta de abril a três de maio de 2003, tive a oportunidade de participar de um bate papo, juntamente com outros dois colegas, com os estudantes de administração do Nordeste. A situação aconteceu após uma interrupção no fornecimento de energia elétrica que, deixou o auditório, onde nos apresentávamos, sem luz. Muitos estudantes saíram, mas um pequeno grupo ficou e com estes iniciamos um diálogo que me levou a pensar no que estamos ensinando nas Escolas de Administração. Eu lá estava para apresentar um trabalho sobre Consciência Ambiental e Sustentabilidade. Fui o primeiro a falar, quando ainda existia luz, sendo seguido pelo professor Clovis de Pernambuco. Em minha apresentação, após utilizar-me da conceituação plasmada pelo Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, publicado em 1987 com o título Nosso Futuro Comum, mais conhecido internacionalmente como Relatório Brundtland, ( 1) que define desenvolvimento sustentável como ...um processo de transformação através do qual a exploração dos recursos naturais, a orientação dos investimentos, das inovações técnicas e institucionais, se encontra em harmonia e reforçam o potencial atual e futuro de satisfação das necessidades do homem..¨, comecei a questionar o que se ensina nos cursos de Administração. Inicialmente é importante que se discuta melhor alguns conceitos. Para André Sevillas ( 2), por exemplo, ¨ O administrador avalia, ordena e dirige homens em desenvolvimento que produzem produtos econômicos ou prestam serviços econômicos, políticos e culturais de qualidade e comercializam com rentabilidade, isto é sem menoscabo econômico, oferecendo esses produtos e serviços com os critérios adequados a sua própria natureza e fim em uma sociedade dada jurídica e politicamente evoluída. ¨ Vamos inicialmente analisar a palavra desenvolvimento. No conceito do Relatório Brundtland a palavra significa crescimento econômico voltado para a satisfação das necessidades presentes e futuras do homem. Para inúmeros autores este conceito precisa ser contestando, pois em sua opinião o desenvolvimento econômico nunca será sustentável. Para eles utilizar-se a palavra desenvolvimento significa opor a um modelo hegemônico um outro modelo hegemônico. (3) A partir desta lógica alguns sugerem a utilização da expressão sociedade sustentável. No conceito de Sevilla ,a palavra desenvolvimento qualifica o homem enquanto ente administrador de recursos para gerar produtos e serviços a serem colocados à disposição da comunidade. Lamentavelmente este homem em desenvolvimento não tem sido muito feliz em suas proposições. Em lugar de desenvolver habilidades que levem ao crescimento, ele esta conseguindo reduzir, de maneira quase que catastrófica, suas fontes de energia. Vejamos, por exemplo, o que esta ocorrendo com a exploração dos recursos naturais. Iniciemos pela água. Este bem tão precioso quanto escasso tem sido mal utilizado no mundo inteiro. Estudos recentes demonstram que no Brasil há um desperdício de aproximadamente quarenta por cento de água potável. Apesar de a grande maioria da população saber que as reservas de água são finitas, muito poucas empresas, setor público e mesmo pessoas, estão adotando medidas indispensáveis para mitigar este problema. O carvão, mola propulsora da revolução industrial, também é um grande poluidor. Falando com um professor da UDESC de Criciúma ele citou o caso de um exercício que costuma fazer com seus alunos do curso de Administração.. No exercício ele propõe a criação de uma empresa que use preponderantemente o carvão como fonte de energia, já que Criciúma é um grande produtor desta matéria prima. Muito embora reconheçam e saibam dos problemas causados pelo carvão, vários alunos optaram por criar uma empresa, potencialmente poluidora, sem preocupar-se com as impactos ambientais que este ato trará para o município e por conseqüência para a região como um todo. Outro recurso natural esgotável é o petróleo. Sua descoberta e conseqüente consumo foi uma das grandes maravilhas do mundo. Contudo, sua utilização como combustível e matéria prima para inúmeros produtos esta presentemente causando mais problemas do que gerando soluções. Outro aspecto que merece nossa consideração é o grande desperdício existente em todas as atividades, sejam elas econômicas ou não. Só para citar um exemplo, na produção de grãos no Brasil, a perda chega a atingir percentuais acima de quarenta por cento. Tanto o carvão como o petróleo, enquanto geradores de energia tiveram e, em particular o petróleo ainda têm, um papel importante no processo de transformação de outros recursos naturais em novos produtos. Lamentavelmente a exploração destas matérias primas, em alguns casos não renováveis, dentro de uma visão antropocentrista tem causado, em inúmeras situações, mais danos do que benefícios. Vejamos agora como trabalhar a sustentabilidade dentro do ensino de Administração. Os principais teóricos desta ciência costumam dividi-la em quatro grandes áreas de atuação denominadas: produção, finanças, marketing e recursos humanos. Na área de produção é onde ocorrem os processos de transformação de energia e recursos naturais em produtos finais ou intermediários. Até bem pouco tempo a grande preocupação desta área era com a quantidade a ser produzida. Não existia a mesma atenção para com o atributo qualidade do processo produtivo. Assim quantidades enormes de energia e matéria prima eram desperdiçadas, sob a falsa premissa de que existia abundância de recursos e que os mesmos tinham custos baixíssimos. Na área financeira predominava e pode-se dizer que ainda existe uma absurda atenção para com os resultados impondo, conseqüentemente uma política de redução de custos ¨a qualquer custo¨. Tendo o produto sido acabado e definido seu preço era preciso colocá-lo no mercado, neste momento surge à área de marketing. Para os mercadólogos não basta satisfazer as necessidades manifestadas pelo cliente é necessário criar-lhes novas necessidades. A durabilidade dos produtos, tão cara no inicio à área de produção, cede espaço para obsoletismo programado. Quanto menor a durabilidade de um produto maior sua possibilidade de vendas, não importando neste caso o destino dato ao produto que se tornou obsoleto. Finalmente vem a área de recursos humanos. No início o homem devia trabalhar como se uma máquina fosse e como ela ter o máximo de produtividade. Ainda hoje temos mão de obra escrava em inúmeras atividades como medida necessária para a redução de custo, aumento de produtividade e conseqüente conquista de novos mercados. As inovações tecnológicas são outra questão a ser apreciada. O progresso do mundo após a revolução industrial foi vertiginoso. Novos produtos surgiam a cada dia desafiando a capacidade dos administradores no sentido de satisfazer os consumidores existentes e em potencial. Contudo, no exato momento em que novos produtos se acumulavam nos diferentes mercados, estava se iniciando um processo progressivo de geração de resíduos que perdura até os dias de hoje. Lembro-me da época em que cursava disciplinas para meu curso de mestrado na Universidade de Syracuse em Nova Iorque quando fui surpreendido pelo pronunciamento do então Ministro do Planejamento do Brasil, senhor Paulo dos Reis Velloso. Questionando sobre as políticas desenvolvimentistas da época que estavam proporcionando um crescimento alarmante da poluição no mundo inteiro, saiu-se com esta pérola de afirmação. ¨Se desenvolvimento significa poluição então queremos poluição¨. Esta afirmativa que na oportunidade me apavorou, por ser atribuída a um dirigente público, na época passou em brancas nuvens. Feita esta análise, bastante pessimista, o que podemos esperar dos novos administradores? Inicialmente falaria da necessidade do administrador assumir seu papel nesta nova sociedade que se avizinha. Assim conceitos como, gestão ecológica, ecoeficiência, eco-sustentabilidade, ecodesing, precisam ser definitivamente incorporados ao vocabulário e, principalmente a prática destes profissionais. Ernest Callenbach, do Instituto Elmwood de Auditoria Ecológica e Negócios Sustentáveis, ao participar do projeto Arquivo Global, apresentou o conceito de gestão ecológica no livro denominado Ecomanagement ( 4 ). O foco deste conceito está na mudança na forma de pensar e agir dos gestores empresariais, ao procurarem reduzir o impacto que suas organizações estão causando ao ambiente. O Elmwood Institut, fundado por Fritjof Capra, em 1984, tem a sua base dada pelos princípios da ecologia profunda e aplica o pensamento sistêmico à compreensão e à solução dos problemas sociais, econômicos e ambientais da atualidade. A ecoeficiência, conceito desenvolvido pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Business Council for Sustainable Development – BCSD), é atingida quando o fornecimento de bens e serviços a preços competitivos satisfazem as necessidades humanas e trazem qualidade de vida, reduzindo progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra. Este conceito sugere uma significativa ligação entre eficiência dos recursos (que leva à produtividade e lucratividade) e responsabilidade ambiental. Portanto, ecoeficiência é o uso mais eficiente de materiais e energia a fim de reduzir os custos econômicos e os impactos ambientais. Fiksel (5), por sua vez, define ecodesign como “projeto para o meio ambiente e a consideração sistemática do desempenho do projeto, com respeito aos objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou processo, tornando-os ecoeficientes”. O conceito de Produção Mais Limpa definido ¨como a aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva e integrada, nos processos produtivos, nos produtos e nos serviços, para reduzir os riscos relevantes aos seres humanos e ao ambiente natural.¨ (6) esta cada vez mais presente no processo de planejamento estratégico de empresas preocupadas com a questão ambiental O markerting ecológico, reducionisticamente denominado por alguns estudiosos de marketing verde, é outra realidade. É cada vez maior o número de organizações que procuram desenvolver serviços, produtos e processos ambientalmente saudáveis, na tentativa de satisfazer as necessidades dos consumidores, não apenas em termos de produtos e/ou serviços, mas principalmente, na busca de uma melhor qualidade de vida. Para finalizar não poderia deixar de falar na ISO 14001. Esta Norma internacional objetiva ¨especificar os requisitos relativos a um sistema de gestão ambiental, que permita a uma organização formular uma política e objetivos que levem encontra os requisitos legais e as informações referentes aos impactos ambientais significativos.¨ Embora de caráter voluntário, a conformidade com esta Norma já esta sendo uma exigência de muitos importadores europeus. Conseqüentemente, gostaria de concluir dizendo que a sustentabilidade do ensino de Administração começa com a incorporação dos conceitos antes expostos, aliada a uma nova maneira de enfocar as grandes áreas de atuação do administrador.Este, mais do que ninguém deverá estar atento e consciente da existência deste intrigante cenário que se avizinha. Sua percepção de que existe um novo cliente mais exigente, mas principalmente mais consciente das questões ambientais, deve ser a bússola que o orientará no caminho da evolução. (*) Economista; Administrador; Mestrado em Administração pela Syracuse University – EUA; Professor Adjunto da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Consultor e Ecologista. CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS ( 1) Relatório Da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente - Nosso Futuro Comum, 1987 (2) Sevillas, André, professor da Universidade Del Valle – Cali, Colômbia. (3) Viezzer, Moema & Ovalles, Omnar – Manual Latino-americano de Educação ambiental. Editora Gaia, São Paulo, 1995 (4) Fonte: Adaptado de Fox (1984) e Callenbach et al., 1993, p. 88-89. (5) Fiksel, Joseph (ed) Design for environment creating eco-efficient products and processes. USA. Mc.Graw Hill, 1996 (6) United Nations Environmental Program/United Nations Industrial Development Organization - UNEP/UNIDO (7) NBR ISO 14001 – Sistemas de Gestão Ambiental – Especificações e diretrizes para uso., Rio de Janeiro,ABNT, 1996 Publicado no Jornal MASTER do Conselho Regional de Administração do RGSUL, Porto alegre – RS , mai/Jun 2004 Volnei Alves Corrêa (*) Resumo

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