O que verdadeiramente nos motiva é a
possibilidade de antever, antecipar, escapar dos grilhões da linearidade da
percepção temporal conscientes de que o futuro, em muitos dos seus aspecto
gerais, já foi determinado pelo passado e pode ser intuído no presente
"Coolhunting", numa tradução literal, é a caçada de coisas
"cool". Não existe um termo em português que corresponda exatamente
ao sentido da palavra "cool" nesse contexto. "Cool", cuja
tradução formal mais próxima seria "fresco" ou "agradavelmente
frio", é também usado como gíria para representar coisas
"legais". Na expressão "cool hunting" a palavra se refere
àqueles itens que são admirados e desejados por representarem o espírito de uma
época (zeitgeist).
Coolhunting é a atividade de buscar identificar, antecipadamente, aquilo que será admirado e desejado num futuro próximo. Quem abraça essa atividade é chamado de "coolhunter". Seu trabalho consiste em fazer uma leitura da sociedade no momento atual e identificar as linhas de força que atuam sobre ela, particularmente no que se refere a desejos, necessidades e aspirações, observando as variáveis econômicas, tecnológicas, culturais, políticas e ambientais, com o objetivo de formular hipóteses comportamentais.
O coolhunter desenvolve a habilidade de perceber, antes da maioria das
pessoas, o que vai acontecer. De eleger, entre os inúmeros possíveis cenários,
aquele que irá se concretizar. O "pensamento antecipativo" é,
necessariamente, não linear e holístico. A quantidade de informações captadas e
processadas pelo nosso cérebro é muito maior do que temos consciência. Um
coolhunter busca informações, mas trabalha com a "intuição", ou seja,
desenvolve a capacidade de deixar "aflorar" seu processamento não
consciente. A antevisão do futuro é noética, se apoia na intuição.
Nos processos intuitivos, o raciocínio é inconsciente e involuntário.
Não se submete aos dogmas da ciência. Um insight intuitivo pode estar em
contradição com todas as informações fidedignas disponíveis, simplesmente
porque somos capazes de captar e elaborar, inconscientemente, outras
informações que não são percebidas conscientemente.
A atividade ganhou seu nome e popularidade durante a década de 1990,
associada ao mundo da moda. Derivou para outros setores econômicos, quase
sempre como suporte às áreas de Marketing fornecendo "insights" para
inovação (renovação ou lançamento de novos produtos).
Recentemente, começa a ganhar espaço no planejamento estratégico de
grandes corporações, estimulada pela velocidade das mudanças. Num cenário
tecnológico/econômico/social dinâmico como o que vivemos hoje, identificar
tendências e antecipar-se aos concorrentes passou a ser uma questão de
sobrevivência.
Entretanto, nas empresas em geral e, particularmente, nas grandes
corporações, a sobrecarga de trabalho mantém os executivos permanentemente
ocupados com o presente, com pouco ou nenhum espaço para pensar livremente
sobre o futuro.
É aí que surge o espaço para a atividade de coolhunting. Os insights
oferecidos pelo coolhunter direcionam os esforços de inovação da empresa,
maximizando a probabilidade de retorno sobre os investimentos.
Não existem cursos específicos para formação de coolhunters, embora seja
mais comum que os profissionais oriundos da área das ciências humanas escolham
essa atividade.
Alguns traços de personalidade tendem a facilitar o exercício da
atividade. Curiosidade, raciocínio analógico e analítico, flexibilidade de
pensamento, autoconfiança e facilidade de comunicação costumam ser
características comuns aos coolhunters. Mas também existem pessoas com
características bastantes distintas destas que são naturalmente
"antecipativas", que "flutuam" sobre a linha do tempo e
percebem além do momento.
Minha recomendação pessoal para quem deseja desenvolver suas habilidades de perceber tendências é ampliar seu leque de experiências de vida, seu círculo social, suas áreas de interesse e, principalmente, romper paradigmas e livrar-se de condicionamentos. A rigidez de pensamento é o principal fator limitante para quem pretende antecipar tendências sociais.
Caçar tendências é uma atividade milenar. Grandes artistas, inventores,
filósofos e, principalmente, escritores de ficção (William Gibson é um bom
exemplo) sempre estiveram à frente de seu tempo apontando tendências.
A denominação foi cunhada por volta do início dos anos 90 e em função do
leve estigma de "pouco científica" em setores mais tradicionais da
economia, não se tornou muito popular, apesar da atividade em si ter ganhado
relevância. Os setores relacionados com moda (vestuário, artigos esportivos,
perfumaria e cosmética) seguem sendo os que mais utilizam coolhunters.
Nem sempre os "coolhunters" adotam essa denominação. Muitos
arquitetos, designers, profissionais de marketing e consultores estratégicos
atuam como coolhunters sem utilizar esse "título". Os principais
profissionais costumam ser conhecidos (com ou sem o título) pelos players dos
setores em que atuam. E alguns são "descobertos" ou "garimpados"
em seminários, congressos, através de suas publicações ou, simplesmente,
durante conversas formais ou informais por executivos "antenados",
capazes de identificar o "frescor" do pensamento e aproveitar os
insights oferecidos por mentes antecipativas.
Sem considerar os profissionais de nicho, a primeira "cool hunter'
a conquistar fama mundial foi Faith Popcorn, CEO de sua empresa Brain Reserve,
através das predições apontadas em seu livro "Relatório Popcorn"
(1991).
Uma das empresas globais mais conhecidas da atualidade neste setor é a TrendWatching.
Um exemplo brasileiro de profissional independente dedicada a essa atividade é
Luciana Stein, sócia da Trend Room e representante da
TrendWatching no nosso país. A BOX1824, fundada em 2003 por
três jovens de Curitiba, também navega nesse cenário.
A grande dificuldade desta profissão é o estabelecimento de um vínculo
de confiança numa habilidade pouco usual e sem fundamento
"científico". Cool hunters e futurologistas que assumem esse
"rótulo" tendem a ser percebidos como versões profissionais de
astrólogos e cartomantes. Não por acaso, adotam outras denominações para sua
atividade (consultoria, assessoria especializada) ou desenham procedimentos que
oferecem explicações racionais aceitáveis para as previsões.
Quando o profissional se torna conhecido e reconhecido num determinado
setor, costuma ser muito bem remunerado.
O caminho mais fácil para iniciar a trajetória de collhunter é trabalhar
como analista em empresas de consultoria estratégica ou de pesquisa de mercado.
Trata-se de uma profissão instigante e desafiadora, e de extrema
importância estratégica. Mas quem escolher seguir esse caminho deve estar
preparado para desbravar um mercado profissional ainda em formação.
Por Flávio Ferrari
Flavio
Ferrari é sócio da UNIT34
– Decisões Estratégicas.
Representante no Brasil da Senvendots (www.senvendots.com).
Coach associado do CCL – Center for Creative Leadership (www.ccl.org).
Consultor especializado em Gestão Estratégica, Processos de Decisão, Inovação e Desenvolvimento de Equipes, com mais de 30 anos de experiência executiva nas áreas de Inteligência Competitiva, Marketing e Comunicação.
Reconhecido por sua criatividade aplicada ao desenvolvimento de negócios e como um dos primeiros "cool hunter" da América Latina.
Divide seu tempo livre entre escrever crônicas e explorar filosofias orientais.
Coach associado do CCL – Center for Creative Leadership (www.ccl.org).
Consultor especializado em Gestão Estratégica, Processos de Decisão, Inovação e Desenvolvimento de Equipes, com mais de 30 anos de experiência executiva nas áreas de Inteligência Competitiva, Marketing e Comunicação.
Reconhecido por sua criatividade aplicada ao desenvolvimento de negócios e como um dos primeiros "cool hunter" da América Latina.
Divide seu tempo livre entre escrever crônicas e explorar filosofias orientais.
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