O título lembra nome de filme, não é?
Parece
incrível, mas está sendo cada mais desafiadora a experiência de viver em
sociedade. Estou exagerando?
Só alguns
exemplos: gente falando alto, ao celular, em restaurante; pessoas falando, sem
parar e em alto tom, durante uma aula (concorrendo com o professor);
motoqueiros e motoboys travando uma guerra com outros motoristas.
Será que
faltam regras para estas situações, ou as que existem seriam suficientes, se
cumpridas?
A reposta
é quase óbvia : sobra impunidade e desrespeito às regras existentes.
Se as
pessoas se “comportam” desta forma em locais públicos, o que ocorre nas
empresas?
Empresas
Muitas
empresas possuem declarações de Missão, Visão e Valores.
O que tem
a ver Conduta com Valores? Tudo!
Precisamos
lembrar que, quase na totalidade dos casos, os profissionais decidem sair ou
são demitidos das empresas por questões comportamentais e não técnicas, devido
à falta de alinhamento das suas ações aos Valores da empresa.
Quando,
além da Declaração de Valores, a empresa possui, também, um Código de Conduta,
melhor ainda.
Se o
candidato a uma vaga puder ter acesso à Declaração de Valores e a este Código,
nas etapas de negociação, antes de “bater o martelo”, pode minimizar os riscos
de não se adaptar à Cultura da empresa.
E depois,
quais as implicações, na vida dos profissionais, da aplicação de um Código de
Conduta? Há o impacto nas avaliações de desempenho, na remuneração variável, em
promoções, transferências, participação (ou não) em projetos, correção de curso
na carreira, Coaching e, em casos extremados, demissão.
Agora, me
dou conta de que vou entrar no campo das questões óbvias… parece que elegi este
estilo de abordagem/redação. Acho que vale a pena escrever sobre a necessidade
de ser honesto e de agir de maneira ética.
“O fim não
justifica os meios”
Prefiro a
frase nesta versão e não na original, que já foi erroneamente, muito
propagandeada.
Seja
demitido, mas não concorde em fazer coisas erradas. Não se afaste de seus
valores pessoais. Acredite, a vida só melhora depois de uma experiência como
esta (já aconteceu comigo).
Costumo
dizer que o Livre Arbítrio é um dos maiores e melhores presentes que ganhamos
na vida. É, para mim, uma regra de ouro: tudo posso, mas nem tudo me convém.
Isto me faz lembrar a Escola Dominical, na adolescência, em São Caetano do Sul,
quando aprendi estes ensinamentos com o professor Genga.
Faça tudo
o que for possível para escolher bem a empresa na qual irá dedicar a sua
energia (e parte da sua vida) e não ser simplesmente escolhido por ela, ok? Os
riscos são menores. Não vincule a sua imagem pessoal e profissional a uma
empresa que não vale a pena.
Governança
Corporativa
Dentro de
um projeto de Governança Corporativa, é muito interessante se estabelecer e
implementar um Código de Conduta.
Quando,
por exemplo, uma empresa familiar busca se “profissionalizar” (não gosto deste
termo), fazendo com que a sua gestão deixe de depender somente da família
proprietária ou que a mesma seja melhor preparada, o Código costuma ajudar (e
muito) a se definir o que pode e o que não pode ser feito, nesta nova fase da
empresa. O Código indica o norte. E, quando surgirem questões ainda não
contempladas no mesmo, é hora de revisá-lo ou de usar o “bom senso” – perigo à
vista.
Elaboração
O pessoal
de Recursos Humanos, como sempre, tem um papel fundamental na condução deste
tipo de processo. A participação de um mediador, por exemplo, um consultor
externo, pode também ajudar muito.
A
elaboração deve ser a mais participativa possível. Cuidado com a ditadura do
saber! Não caia na tentação de acreditar que somente um punhado de pessoas
possa agregar ao Código. Para cada tópico (ou grupo de tópicos), deve-se
convidar participantes diferentes.
Quanto
mais representativo for o grupo de pessoas, de diferentes formações e atuações,
melhor. Claro que não há necessidade de que todas as pessoas discutam cada
tópico.
Uma boa
forma de se elaborar o Código é através da projeção do texto com o uso de um
Data Show, numa sala apropriada, permitindo que os participantes o visualizem.
O documento pode ser, então, modificado “on line”.
Não é
necessário “inventar a roda”. Pode-se consultar Códigos de clientes, fornecedores,
empresas que se admira. Cuidado, porém, com transplantes sem adaptações à
Cultura e aos Valores da empresa. O resultado pode causar uma rejeição, com
efeitos colaterais graves.
Lembre-se:
o Código deve proteger, razoavelmente, os interesses de todos os Stakeholders.
Finalmente,
o Código
Desde o
início, eu não pretendia apresentar o texto de um Código de Conduta, na
íntegra. Acredito que, ao fazê-lo, poderia tirar a oportunidade de criação dos
leitores. Porém, apresentar uma sugestão de tópicos, em grupos, pode ser um
prêmio para quem chegou até este parágrafo do artigo.
- Comunicação interna e
externa: abordagens
preferenciais, críticas, conduta em reuniões, inverdades, exageros,
arrogância, prepotência e preconceitos.
- Comunidade : relação com a vizinhança,
participação pessoal em atividades políticas, participação pessoal em
atividades da comunidade e cidadania responsável.
- Concorrentes : respeito aos concorrentes.
- Desvios ao Código : denúncias e descumprimento.
- Fornecedores : seleção/contratação,
recebimento/fornecimento de brindes e conflitos de interesse.
- Gestão : atendimento à Lei (é o
mínimo) – a conduta ética nos negócios deve, normalmente, existir num
nível bem acima do mínimo requerido pela Lei; atendimento às
regulamentações ambientais; tomada de decisões; assédios/pressões,
intimidações ou ameaças no relacionamento entre todos os níveis
hierárquicos; postura de gestão quanto a: eventual erro, repetição de
erros, descuido, negligência, falta de interesse; auditorias internas e
externas: conhecimento e atendimento ao Código; valor para os Acionistas.
- Informações : precisão nos registros e nas
informações; segurança nas informações (pode-se firmar um documento
específico); propriedade intelectual: informações que beneficiariam um
concorrente se fossem de seu conhecimento; direitos autorais;
confidencialidade (pode-se firmar um documento específico); manutenção da
palavra: não prometer mais do que se espera, razoavelmente, entregar, nem
firmar compromissos que não se tem a intenção de manter.
- Melhorias do Código: sistemática de revisões.
- Pessoas: oportunidades iguais de
contratação/diversidade (a diversidade torna a empresa mais forte);
políticas da empresa (não devem ser discriminatórias); ambiente seguro de
trabalho; comportamentos esperados na empresa: honestidade, justiça,
interesse, pró-atividade, responsabilidade, julgamento, integridade,
respeito, dignidade, conduta ética; utilização adequada dos recursos da
empresa (telefonia, transporte, computadores,etc.) (pode-se firmar um
documento específico).
E o que
não está no Código?
Lembra-se
da história do bom senso, no início deste artigo?
Eis uma
regra de ouro: ter em mente estas diretrizes básicas:
Se você
ficar desconfortável com uma ação particular,
- que você não gostaria de
contar para as pessoas que você ama e respeita e/ou
- que você não iria querer ver
estampada na página frontal de um jornal de grande circulação (ou de uma
página na Internet, de grande visitação), então, NÃO FAÇA !
Conclusão
O que se
busca, em última análise, são resultados agora e no longo prazo, ou seja, um
retorno sustentável. É importante, também, minimizar os riscos do negócio.
Neste
sentido, um Código de Conduta, num processo de Governança Corporativa, tem um
papel fundamental e precisa ser sistematicamente lembrado, mencionado,
inter-relacionado a outros aspectos e métodos da Organização para que se
justifique tê-lo desenvolvido e implementado.
Sobre o
Autor:
Ronaldo
de Fávero, é
Consultor em Gestão Empresarial desde 1992; Atuação em Sistemas de Gestão
Integrada, Governança Corporativa e Gerenciamento Interino; Cursando MBA em
Gestão de RH – INPG São Paulo; Pós-graduado em Qualidade, Especialista em
Meio-ambiente e Graduado em Matemática; Ex- Professor de pós-graduação da FEI –
Faculdade de Engenharia Industrial
e-mail: ronaldo.favero@terra.com.br
Publicado
por RHevista RH - sexta-feira 1 de junho de 2012
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